domingo, 13 de novembro de 2011

hOjE fOi aSsIm

Hoje foi assim: deixei minha filha na casa do pai dela, tinha sol acompanhado de um vento primaveril e, eu comigo mesma, resolvi colocar os pés no chão.
É incrível como passamos dias sem colocar os pés no chão! Sempre com sapatos ou até descalços, mas no piso frio da casa, no assoalho dos quartos, no alto de andares...
Hoje eu precisava aterrar! Mexer os dedinhos! Caminhar na terra e na areia de praia!
Opção: ir direto pro clube onde tem terra e areia a vontade, onde tem pássaros cantando, barulho de água corrente, peixes e árvores, silencio de domingo e, claro, é cercado.... sim absurdamente  precisamos de segurança para colocar os pés no chão!!
Para simplesmente tirar os tênis e as meias e caminhar de pés descalços. ...
Mas era uma necessidade vital. Sabem como é? Quando nada é mais importante do que caminhar de pés descalços? Bem, eu sou assim. Preciso disso.
Assim como preciso olhar o mar algumas vezes por ano.
Necessidade básica de não enlouquecimento.
Adoro olhar longe, adoro mato, mas mar é outra coisa.... mar é mãe, é luz, é vida pulsante, iemanjá, imensidão, é tudo.
Hoje não podia ir tão longe. Então fui caminhar na metragem quadrada de areia de praia que tem no clube. Sentei, deitei, fechei os olhos e fui até a praia.
Fui ficando ali... meditando, organizando as idéias, tentando aterrar e aterrizar os pensamentos e os quereres, depois de algum tempo abri os olhos. A areia quente e o sol alto me avisavam que já eram 13h e eu tinha que ir, amigos me esperavam.
Enquanto calçava os tênis, me dei conta que havia ficado num quadrado do tamanho de uma quadra de vôlei de praia por um bom tempo. Enquanto eu tentava me organizar por dentro, um quadrado me dava o limite por fora.
Logo eu que adoro transitar por fora do quadrado, havia me deliciado por dentro de um J
Deliciosamente fiquei sentada mais alguns minutos, do lado de fora do quadrado, percebendo o que havia ali para entender nesta história enquadrada..
Resolvi, então, que já era hora de escrever novamente por aqui e agora, já noite, sento para digitar e dividir minhas divagações limitadas pelos quadrados que carrego em mim.
O que me levou a não escrever mais, foi  viver mais!! Vivo há meses de forma tão intensa que não sobram palavras. As deixo nas ruas, nos amigos, nas vivências e me recarrego de sensações e de afeto. Estou tão de bem com a vida que me parece bobagem escrever. É como se escrever fosse, para mim, a única forma de elaborar a dor, a única forma de esvaziar angústias e que, sem elas, não há palavras.
De repente hoje, me dei conta que posso partilhar também bom humor, um dia feliz, uma energia boa, pois quem me lê aqui tem pra mim grande importância e são totalmente merecedores de boas vibrações.
Nestes últimos tempos entendi que não preciso obrigatoriamente ter uma temática ou escrever frases densas, posso ser simples e ser só isso.
Posso escrever fora do quadrado da gramática e fora do quadrado dos dizeres intelectuais. Posso transitar fora do quadrado da sensatez e dançar por lá sem ritmo ou virar estrelinhas - sentido figurado, pois nunca aprendi a fazer isso :(.
Ou quem sabe telefonar para alguém com quem nunca falo. Ou talvez enviar um email de agradecimento, agradecendo nada, só o fato de estar grata no dia de hoje.
Quem sabe ligo ou faço um desenho, quem sabe danço sozinha na sala ou compro uma roupa laranja e verde limão! Quem sabe leio livros de conteúdo consagrado ou compro uma revista feminina cheia de fotos! Ou como um pote de ambrosia sozinha sentada na sala e vejo um desenho animado.
O que tem que ser feito? O que tem dentro do quadrado? Ainda não sei tudo o que tem dentro do quadrado, pois passo a maior parte do tempo do lado de fora! Também não sei tudo o que tem fora, mas sei que moram os comuns, os que erram várias vezes, os que se ridicularizam de amor, os que choram de rir, os que perdem tudo e todos, os sem cor e os multicoloridos. Fora tem o chaveiro que eu conheço desde criança, o sapateiro, a moça que descasca a maçã da Laura no intervalo do Colégio, os pedreiros do prédio da frente, o cara na parada de ônibus, os tantos outros... Fora tem gente querendo ser visto, tem gente querendo acertar uma vez na vida, tem gente que borboleteia e gente que faz. E dentro? Dentro tem todo esse povo também e outros tantos mais..... e eu transito de dentro pra fora e de fora pra dentro, a cada dia julgando menos, curtindo o que cada um tem para dividir comigo e dividindo com cada um o que tenho de melhor no agora.
Quando todos os de dentro se encontrarem com todos os de fora faremos uma festa do agora e, desde já, estão todos convidados!!
E agora cá estou eu, nada preocupada se estou sendo coerente ou não! Estou sendo meu melhor  e ponto. E que gire o mundo e que ele nos propicie poder falar ou silenciar, estar só ou acompanhada, ser branca, preta ou amarela, magra, gorda, velha ou não, que sejamos gente e que tenhamos gente ao nosso redor.
Porque ter amigos e amores é tudo nessa vida!
E assim foi este dia de domingo igual a tantos outros, mas que me devolveu as palavras e com elas comigo escrevo aqui, conversando com cada um que me lê.
Bárbaro!!
Simples assim!
De bem com a vida!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

BODAS DE DIAMANTE

Domingo passado fui a uma festa de Bodas de Diamante! Para quem não sabe, assim como eu, dias antes do evento, esta data comemora 60 anos de casados!  Meus amados tios comemoraram este dia rodeados de filhos, netos e bisnetos, além de irmãs, sobrinhos, filhos dos sobrinhos, amigos de jornada, vizinhos. Todos os que tornaram este somar de anos possível. Um almoço, flores de centro de mesa, chimarrão na chegada, comida caseira, bolo de noiva, fotos, frio, chuva, músicas, lembranças, histórias e tudo parecia tão normal que poderia ser o aniversário de qualquer um que estivesse lá. De repente o bisneto de 8 anos pega o microfone e pede atenção de todos para vermos um vídeo. E com uma apresentação de Power Point começaram a ser mostradas fotos e frases. Fotos deles namorados, do dia do casamento, dos primeiros filhos, fotos que víamos quando criança, que achávamos engraçadas, preto e branco, hoje amareladas. Fotos que lembramos do dia em que foram tiradas, fotos de todos juntos, de natal , de praia, de quintal e sítio, daquelas que nosso cabelo não tá arrumado, que não passaram por photoshop, que as crianças chegam correndo e fazem caretas. Fotos de todos apertados, amontoados, rindo, dizendo X, dos tios que já se foram... Aquele sofá de fundo que já não temos mais, as paredes que já pintamos de outra cor, o cachorro, as ovelhas, as bergamotas! E as lágrimas começam a cair como um chafariz. Uma emoção gigante toma conta e as fotos do Power Point já parecem embaçadas. Como pode passar tudo tão rápido e ter tanto significado! Para colaborar com a choradeira vieram os testemunhos, os discursos, as declarações públicas de amor. Lindamente singelo. O valor da construção familiar sobrepondo os quereres individuais. Entre brigas e reconciliações de tremer a casa, os dois jamais pensaram em seguir sozinhos. Juntos ergueram a família do nada. Juntos começaram do zero, levantaram tijolo por tijolo com muito trabalho e determinação. Criaram os 4 filhos com zelo e dificuldade. Mantiveram a família por perto, com doses diárias de moral e amor. Cultivaram os rituais da igreja e da família. Sabem sempre o aniversário de cada um de nós. Discordando e resmungando iam dormir abraçados. A cada aniversário de casamento iam refazendo os votos. Para alguns que estavam lá eles são exemplo de perseverança. Para outros, quase um milagre. Para mim são meus tios amados, meus pais de coração, os tios que me acolhiam sempre, que faziam gostosuras, que cantavam pra mim e que me deixavam dormir nos pés da cama. Para mim um exemplo de que temos que ter objetivos de vida e segurar a retranca do tempo, que nem sempre conta a nosso favor. A grande meta deles está atingida – a família estava toda lá, inteira e consolidando a crença de que rituais fortalecem estes laços e, sendo assim, todo o resto valeu à pena. 

quarta-feira, 18 de maio de 2011

E SE FOSSE EU?


Um amigo resolveu fazer o Caminho de Santiago. 
28 dias caminhando. Desencadeou em mim mil perguntas. E SE FOSSE EU? E se eu pudesse passar 30 dias comigo mesma?
Há anos desconheço o silêncio fora de mim. Talvez eu até tenha, desde sempre, um cantinho, dentro de mim, no qual me permito silenciar, mas fora não tenho. Apesar de saber que estaria caminhando grande parte do dia, tenho a sensação de que conseguiria parar um pouco esta velocidade enlouquecida de pensamentos, esta expectativa coletiva que exige que sejamos felizes, plenos, sem deixarmos de ser comuns, iguais, rotineiros e previsíveis. 
Nunca fui igual. Não tinha como ser igual sendo ruiva, branca, enquanto todas eram loiras, morenas e bronzeadas. Fui magérrima quando outras tinham curvas, fui quieta quando todos gritavam e escrevia quando ninguém lia. Sempre por dentro só, por fora acompanhada. Sem talento para o esporte, abandonando a música, emudecendo para ser escutada. Muitas vezes corri desesperadamente para que a porta não se fechasse, tentei segurar a mão dos que eu amava, mas eles morreram... tentei segurar o cheiro deles... Sempre numa cidade, nunca viajante, mesmo assim com a sensação que, de fato, não sou daqui. Às vezes escuto relatos de quem foi longe para se encontrar e penso o quanto já fui longe dentro de mim nesta mesma procura... Vejo que chegamos ao mesmo lugar.
Poder deixar tudo e caminhar olhando longe, segurando num cajado, poderia ser uma boa forma de deixar meus pensamentos repetitivos roucos, afônicos, inexistentes...
O que será que sonharia estando lá? Como seria a fome e a sede? Como meu corpo responderia? Que dor sentiria? Onde? O que conversaria comigo mesma ao som do nada, dos passos, do iPod? Levaria músicas? Que lembranças me preencheriam? Quais as que seriam recorrentes? Que imagens viriam primeiro e por quê? Quem de fato tem significado na minha vida? A quem dou nome e papel? O que faço por mim mesmo e o que faço para que os outros gostem de mim? Doação ou aceitação? De onde vem minha energia? Em que acredito? Será que rezaria todas as noites? Ou deitaria podre de cansada e nem me lembraria de rezar? Será que ficaria sem ligar para quem amo? Será que amo com desapego? Bem... talvez em 30 dias eu de fato percebesse o que sinto no coração, como escuto meu coração, como trato sentimentos como desapego, aceitação, perdão, culpa e ressentimento... ou não. Ou esqueceria a importância disso tudo e só caminharia. Será que conseguiria deixar isso tudo lá pelo caminho? Será que longe, neste lugar lotado de energia, eu conseguiria esvaziar gavetas, elaborar minhas perdas? Sentiria na pele a saudade da minha filha. Eternos muitos infindáveis dias se penso nela. Rápidos em relação a mim mesma. 
Faria amizades nas caminhadas, conversaria por horas, escreveria por tantas outras? Escutaria as várias histórias, os vários porquês? Penso que sim. Perceberia com prazer as feições, os olhares, e amaria profundamente cada um que me percebesse sem me pré-definir. Cada um que me enxergasse de cara lavada, rugas, olheiras, pés cansados, corpo quente. E cada toque das mãos, cada sorriso no percurso, cada lágrima percebida, faria eu me apaixonar pelo outro, por ele me deixar vê-lo sem couraça. Será mesmo que conseguiria ir desprovida de defesas? Ou ao menos baixá-las por lá? Será mesmo que seria capaz de perceber a energia do lugar? O que está nas entrelinhas? O que nos é sinalizado no comum? Certamente estaria de coração aberto, assim como estou atualmente, mesmo aqui numa mesma rua. Será que haveriam estrelas no céu? Ou cairia uma chuva danada de forte? E quanto tempo eu levaria para secar? Será que eu choraria junto com a chuva? Será que ainda teria lágrimas depois de tanto chorar? Como seria o amanhecer? O que me despertaria e me encheria de energia para mais um dia de caminhada? Seria de novo um desafio de resistência física e emocional? Que desafio haveria por trás deste propósito? Será que suportaria mais desafios do que tenho me provocado nos últimos anos? E os dias iriam passando, um a um, no seu inevitável ritmo... E eu? Passaria caminhando por eles, sentindo nas passadas os segundos ou nem perceberia as horas? O que deixaria lá de lembranças passadas para trazer de volta em novas imagens?  E daqui a 10 anos, o que desta caminhada iria querer ou iria poder lembrar?  Será que desta vez aprenderia a não ter estes controles todos? Será que eu conseguiria somente viver a caminhada e me permitir aproveitar a plenitude do agora? Lembrei das minhas meditações. Há alguns meses medito diariamente, procuro esvaziar o que é pensamento repetitivo e me organizar de forma produtiva, focando no que de fato agrega ou possa agregar no dia. Assim me conecto comigo, reforço minhas escolhas e sigo. Através disso surge mais leitura, mais escritos, mais vivências, e sigo meu caminho de desapego de várias necessidades aparentemente básicas e de pessoas que têm grande significado pra mim, mas que a recíproca não é verdadeira. Não julgar e desapego. Outros dois grandes e eternos exercícios... será que esta caminhada me ajudaria? Será que é importante ter respostas? Será que o caminhar por horas propiciaria muitas perguntas? Destas que a gente nunca se faz, por falta de tempo e de coragem? Será que eu conseguiria não me julgar em tais perguntas?
Em cada passada perceber o dia. Saber a hora de descansar. Saber a hora de seguir. Saber pedir ajuda. Saber escutar. Olhar os detalhes. Aproveitar o silêncio. Escolher seguir ou ficar. E agora, diante de tantas perguntas, basta seguir a caminhada e tentar respondê-las. A viagem até aqui já está ótima, já me sinto presenteada!!




sexta-feira, 15 de abril de 2011

caí estatelada

Fui atropelada. Novamente. Como pode? Garanto que prestei atenção! Tantos cuidados e caí na mesma cilada. De novo e de novo e de novo. Lá fui eu atropelada pelos fatos. Lá estava eu achando que entendia, já formulando certezas, caí. Caí de bunda no chão. Estatelada. Tantos foram os tombos nestas últimas semanas que precisei reaprender a andar. Sabe quando precisamos parar tudo e respirar? Pois é. Tive que fazer isso algumas vezes. O tombo mais forte foi num jantar, com pessoas que gosto muito e que, acima de tudo, respeito. Estávamos lá conversando e eu sentada, recostada na cadeira. Relaxada ouvia os relatos pessoais com afeto e aquele distanciamento relativo. De coração eu estava presente, mas com a razão construía verdades, como que em pensamentos paralelos. Quando tecia algum comentário, tentava fazê-lo para de fato acrescentar algo. De resto ficava quieta. Um gole, uma mordida na pizza, e eu certa de que tudo fluía. Com a arrogância dominando secretamente os pensamentos, totalmente disfarçada de solidariedade, poderia descrever como se meus pés estivessem sobre a mesa e a cadeira um pouco reclinada, sabe como é? Quem não se sentou assim quando estava totalmente à vontade? 
De repente, no meio de uma história de vida, contada em detalhes, com verdade e lágrimas, num total desabafo, o chão desapareceu e eu caí. 
Caí em mim, em cima de mim!! Eu tinha julgado o sujeito daquela história sem saber de nada. Eu simplesmente já o tinha definido e ponto. Como assim se detesto preconceitos?! Que onipotência essa de definir alguém!! Meus olhos caíram, minha cara caiu, cheguei a sentir as olheiras profundas surgindo em segundos. Caíram em cima de mim minhas certezas, meus pré-conceitos, meus julgamentos. Me julguei pequena, mesquinha, egoísta. Caí novamente por perceber que eu só estava mudando o sujeito, mas as críticas duras seguiam.. Em profundo silencio voltei pra casa. Depois de tanta caminhada, de saber tão bem o quanto é horrível ser julgada ou pré-definida, caí na cilada de achar que podemos definir alguém sem saber seu contexto. Só me ocorreu ligar para a pessoa e pedir desculpas (fiz minutos depois que cheguei em casa). Depois de horas fui dormir pensando que nada sei nem de mim, muito menos de outros. Estava nada. Aquela petulância virou constrangimento e fiquei sem fala. O que tenho em mim que é tão frágil, o que em mim não acredito, para que necessite julgar o outro? Não será isso outro julgamento? Não será isso também uma rigidez? O que faz com que pré-julguemos o que quer que seja? Que loucura é essa de certo/errado, bom/mau, branco/preto, 8/80, que cega a percepção do outro e de nós? Bahhh ainda estou digerindo estes tombos do meu ego, enquanto percebo o quanto tenho que caminhar.... Será que chego aos 100 anos um pouco mais gente? Sei lá, mas certamente tudo isso me aproximou da pessoa em questão e fico feliz pela confiança em mim depositada. Aprendi muito com ela entre uma e outra mordida na pizza. 

segunda-feira, 28 de março de 2011

Isso ou aquilo ou nada disso

O olhar da minha filha indica que devo saber as respostas. Ela tem uma certeza absoluta que tenho as respostas. O incrível é que esta certeza dela vem da minha total dúvida. Frequentemente digo a ela que também não sei, que tenho que ver no dicionário, na internet, no jornal, que tenho que perguntar a alguém, sei lá... Ela olha pra mim como que duvidando, como se eu estivesse brincando. Ela ainda não sabe, mas é ela que tem a resposta. Ela é que confia tanto que sabe que eu sei antes mesmo de eu saber! Confusa dinâmica  estabelecida de antemão. Sigo certa de que a certeza dela vem da minha constante demonstração de dúvida. Com isso construímos nossa relação mãe e filha. Sem todas as respostas, bem longe disso, mas com verdade, com honestidade. É incrível como vamos perdendo as certezas com o passar dos anos e, mais incrível ainda, é que vamos ficando cada dia mais serenos e convictos por saber disso. Calma gostosa que aparece no meio de tantos pontos de interrogação... Gosto de saber que a vida é assim! Que posso fazer novas escolhas, que sou responsável por elas, que posso ir e vir! Quanto mais me acho, mais me cuido, mais me respeito e, sendo assim, mais respeito minha filha e os que fazem sentido pra mim. O amor de uma criança é direto, sem escalas, intenso, inteiro, fala frases completas, impacta e nos desacomoda. Não tem essa de dúvida, de não responder de pronto, de deixar para amanhã. É na hora e com olho no olho. Uma delícia! Mas temos que estar preparados e, se não estivermos, vamos ficar na marra....
Recebi este vídeo e daí saiu este escrito. Este vídeo me desacomoda, não tento entendê-lo, só senti-lo. Assim faço com várias coisas. Não quero entendê-las, quero vivê-las e só. Este já é um bom legado: ensinar minha filha a viver o presente, a não entender tudo, a me perceber incompleta, a duvidar dos processos, a brincar com a vida, a rir de si mesma, a errar sempre, para acertar com convicção. Que se suje, que borre, que grite, que chore, que desorganize! Do caos vem a saída, a melhor idéia, o crescimento, a identidade! Desta forma consigo me mostrar, desta forma disforme, desordenada e crua, que cai e levanta. Desta forma sou mulher e mãe, amiga e filha, provedora e protetora. Desta forma a convido a navegar comigo e a crescer menina e mulher.
Não tenho as respostas. Tenho as perguntas. Várias, muitas, infindáveis! Minhas certezas são sobre o que não quero. Posso responder sobre isso ou aquilo, posso perguntar sobre nada disso ou aquilo tudo ou ainda de onde vem tudo isso?! Quem quiser participar desta troca de perguntas e respostas que venha!! Nós gostamos de gostar e estamos prontas para gostar cada dia mais!


domingo, 20 de março de 2011

claustrofobia

Imensa lua. Céu claro. Noite outonal. Comida japa. Companhia light. Parece tudo dominado? Uma noite agradável de março? Não. Não dá pra sentir assim. Tenho um nó na garganta, um aperto no peito, um medo no estômago, uma dor nos ossos, uma tristeza avassaladora. Acendo todas as luzes? ou escureço tudo? Falo, grito, bebo, choro, esperneio? ou silencio, penso, leio, escrevo, medito? Posso ficar em casa ou sair. Posso abrir as janelas e deixar a lua entrar. Posso isso ou aquilo. Posso. Mas não me permito. Castro meus pensamentos. Enquadro meus sentimentos. Estou claustrofóbica.  Não quero saber. Não quero pensar. Racionalizar novamente me dá náuseas... Começo a remexer entre roupas e sapatos, entre papéis e emails, não acho o que preciso achar, não me acho. Fecho os olhos, começo a cantarolar velhas músicas, resolvo pegar fotos. Tenho milhares de fotos, muitas impressas, ainda no HD muitas mais. Anos de fotos, fotos por ano, por evento, por lembrança, por momento. Cataloguei tantas delas, outras tantas nunca imprimi. Falam de mim, de outros, de vida, da vida, da minha vida. Falam pra mim. Se mostram resolvidas, solucionadas. Fotos são o que são e ponto. Se mudamos de idéia, se resolvemos fazer outras escolhas, as fotos não têm nada a ver com isso. Eu que me resolva sozinha. Fecho tudo e guardo, bem lá em cima do armário, bem no fundo da prateleira. Lembro da história que escutei de uma amiga japa/paulista/gaúcha esta semana: sua amiga, que mora no Japão e bem perto do ocorrido, está ilhada no seu apartamento, sozinha, sem comida, com racionamento de luz, eventualmente acesso a internet. Ela está esperando, assustada, só. O que de fato faz sentido para ela? Qual o tamanho do seu medo? Se ela olha pela janela vê tudo coberto de sal grosso, abandonado, sujo, destruído. E ela segue lá, no seu apartamento, esperando... tempo... claustrofobia. Claustrofobia minha em saber dela. Claustrofobia que não libera meus pensamentos, que não se solta de mim, que aperta, prende e sufoca, que não some nem com grito, nem com vento. Aqui entre quatro paredes a dor é intensa e me sinto mesquinha e pequena se penso na dor dela. A lua entra pela sala, invade meu pessimismo. Ela vem me provar que posso olhar além da janela, ela olha aqui dentro, ela entra e interfere, acaricia o chão e os móveis, se impõe como dona e me desafia a olhar mais fundo, muito fundo, além da tristeza, além dos papéis. Me força a chegar até a luz, esta luz que temos dentro, que muitas vezes não enxergamos de tão lotada de carcaças e pó. Luz esta que nos renova, que nos estima, que nos faz ir lá no início de nós. Entre tantos devaneios começo a falar com ela, a trazê-la à tona, preciso dela para me refazer, preciso acreditar, preciso sair da claustrofobia. Já sinto novamente o ar outonal desta noite clara. Fecho os olhos e sinto na pele o gelado da lua. Apago as luzes da casa só para sentir a luz, a convoco para me fazer companhia. Ela me aquece. Já me sinto acolhida. Já posso dormir. Já acredito que amanhã terá sol.
 

domingo, 27 de fevereiro de 2011

CHEIRO DE FILHA


Inevitável parar para lembrar quando tudo começou. Eu ainda brincava de balanço quando me dei conta que, de dentro de mim, sairia, um dia, minha filha. Achava lindo imaginar que teria uma filha de cabelos lisos e escuros, pela branca e boca vermelha, assim como a Branca de Neve. Ela se chamaria Laura. Laura, para mim, significava Luz. Os anos foram passando e secretamente eu seguia com meu desejo – uma filha. Encontros e desencontros afetivos, altos e baixos da vida, nada alterava este desejo intenso e inegociável. Vários anos mais tarde engravidei. Durante as 40 semanas da gestação tive o prazer de sentir o desenvolver desta menina que já se chamava Laura há tanto tempo. Não toquei uma música especial pra ela, não contei histórias ou qualquer outra dica da mídia psicológica, simplesmente convivi com ela e a convidei a fazer parte da minha vida. Trabalhou comigo, me escutou, viajou comigo, dançou comigo e fez parte dos meus momentos íntimos. Mas foi no dia do seu nascimento que de fato a conheci. Quando a recebi nos braços e a toquei percebi que ali estava o amor incondicional. Olhei para ela e me apresentei: OI LAURA, SEJA BEM VINDA A ESTA VIDA, VOU SER SUA MÃE DAQUI PRA FRENTE! E ali, naquela hora, passamos a ser mãe e filha. Eu sabia como amamentá-la, como cuidá-la, mas ainda não havia percebido este jeito de amar tão diferente. A cada novo dia de vida ficava claro que ela era uma pessoa única, com desejos e posicionamentos dela, e assim a respeitei sempre. Não acho que ela seja parecida comigo, acho que se parece mais com o pai dela ou, talvez, com minha mãe. Gosto é de perceber o que vem de dentro dela, o que ela traz de novo, de seu, de próprio. Vou, então, aprendendo a amar sem posse, a amar preparando para o mundo, a amar para que seja amada por outros. Um exercício e tanto para quem estava acostumada a amar para ter perto, para ter em casa, ao lado, como se ama namorado e marido. FILHO É OUTRO VETOR. Filho é para fora. 180 graus. É saber que vai se ferir, se frustrar, se perder, e mesmo assim deixar ir. É deixar claro que somos o porto seguro, pra onde ela pode retornar sempre, mas de onde ela precisa soltar as amarras e se lançar. Lindos 7 anos de convívio que se completam hoje. Linda menina doce e determinada, que passou a semana inteira na dúvida se queria ou não crescer, querendo já morar sozinha e pedindo ajuda para se secar depois do banho! Com medo do escuro e da morte, com curiosidade e magia, se achando princesa e grande, deitando pequena a espera de uma cantiga de ninar! Linda filha menina, surpreendente pessoa que divide conosco sua vida de forma tão intensa e saudável! Ela tem nela mãe e pai, família e amigos, todos juntos dentro do coração, afirmando e garantindo pertencimento e verdade. CHEIRO DE FILHA, vida de filha, bom ter uma filha, maravilhoso amar assim...Ah! Faltou falar do negrinho de colher! Este é nosso prato preferido de final de semana, vendo um filme na TV, comendo em colheradas cheias, muitas vezes no silencio hipnótico das imagens. Momento que fica escrito por dentro, que tem gosto e tem cheiro, que tem cumplicidade e parceria. Momentos como o de ir a pé para o Colégio, cantando pela rua. Como de cócegas e de luta em cima da minha cama. Como o das brigas e limites, as toneladas de “não” e os milhares de “sim”. Rotina bárbara de viver e de sentir-se vivo! Tocando a vida com tudo o que ela pode ser tocada. Luz intensa que nos conecta com o mundo dos que amam de verdade. Este amor com gosto de negrinho de colher, com cheiro de filha que é tão grande que não cabe na gente! Parabéns filha pelo dia de hoje, agradecimentos a vocês por estarem perto de nós, escrevendo esta história de vida, da vida desta pessoa que é a Laura, hoje com 7 anos.


domingo, 20 de fevereiro de 2011

CAOS CALMO


O tão desejado e necessário silêncio está aqui comigo esta noite.
Chegou depois de um dia ensolarado, junto com as nuvens pretas, sinalizando temporal. Ele veio. A chuva não. Percebendo que eu precisava de carinho, me acompanhou a cada instante, me tocou e entrou em mim suavemente, profundamente. E ficou. Cá estou, eu e ele, sem trocar uma palavra, num calmo... Caos?! Não tenho como deixá-lo dentro de mim, não posso que fique dentro de mim, prefiro a chuva que pode chorar comigo longamente. Mas a chuva não vem... Preciso desidratar de tanto chorar, para me livrar deste caos... Nenhuma lágrima sai de mim. Sempre gostei da companhia dele, sempre necessitei silêncio por dentro, mas hoje não posso hospedá-lo, preciso esvaziar estas tantas palavras caóticas que insistentemente querem sair e atabalhoadamente querem dizer o que meu coração não suporta pensar. Tento ficar quieta, esperando as horas passarem, esperando as coisas acalmarem, me adequando a normalidade. Gestos calmos, palavras aveludadas, expectativas correspondidas, mulher educada e afável. Palavras bem colocadas, pensadas, estudadas. Tons pastéis, batom cor de boca, unhas nude, brilho no olhar, sonhos bons. Calmo, tudo calmo, tudo conforme esperado. O silencio acompanhado. Acompanhado e adequado. Casca. Isto tudo é pura casca. É preciso ver por baixo das cascas, mais próximo das entranhas, onde estão as partes em ebulição, onde os pensamentos se agitam e o estômago contorce. Lá de onde vem as lágrimas, os delírios, os desejos, os gritos. Onde moram as palavras vãs, onde elas  gritam, explodem, atordoam, ignoram e vomitam como querem. Onde se esconde a inquietação, o ódio e a culpa, a insônia e a dor, a náusea e o desprezo. Por dentro do caos. Puro cansaço. 
Caos calmo.
Convívio diário entre o silêncio e a tormenta. Tudo eu. Eu mãe e mulher, convivendo com a ausência de mim mesma e na procura do sentimento que rege este caos. Tentando, desesperadamente, entrelaçar o sombrio e a luz que há em mim, conseguindo juntar os cacos do meu eu frágil, colando um a um com prazer imenso, entendendo minhas formas, cada pedaço, cada história, cada suor. Parceiros de caminhada - silêncio e solidão, música e sol – balizadores de humor, balizadores de mim. Onde está o bom senso que tanto me faz companhia, porque se ausenta logo hoje que preciso da sua voz? Não gosto de ser cerceada, sou claustrofóbica. Não sou nada possessiva, totalmente presente, mas várias vezes ausente de mim. Sufoco se não falo o que sinto, sufoco se não tenho retorno de som. Eterno exercício de achar o som por dentro, briga pelo controle da voz, caos que alivia o calmo dia de sol, que move e desacomoda, que me faz diferente e viva, que pulsa e expulsa o que de calmo existe e de inerte persiste.
Há de fato quem pode escutar também lamentos? Há, entre tantos, os que suportam palavras mais cruas, os capazes de enxugar litros de lágrimas, de suportar o silêncio conosco, até que passe o caos e venha a calmaria? Ou será mais fácil o convívio nos dias de sol e casos engraçados? A presença dos cáusticos e sarcásticos me parece atraente, os corretos e bem educados ficarão para outra ocasião. Todos fazem parte de mim, mas nem todos fazem parte da mesma parte que se reparte aqui em fragmentos. Que fique claro - o silêncio é bom demais quando meu convidado. Mas quando entra porta a dentro e fica, delimitando a distancia do toque, tornando intransponível, fechando, lacrando qualquer possibilidade, preciso matá-lo. Vamos conversar...

domingo, 30 de janeiro de 2011

oLhAr OpAcO

Uma noite quente de verão, uma estréia no cinema, sessão esgotada. Dentro do carro, olharam as estrelas e resolveram jantar. Junto com o cardápio veio a notícia do fim. Entre a escolha do vinho e do prato, em duas ou três frases, acabavam anos de relacionamento. A sessão estava esgotada. A relação estava encerrada.
Sem voz, sem chão, sem fome, sem sede e com o olhar afogado em lágrimas, ela ali ficou. Imobilizada. Nada. Ela era nada. Acabava de ser deletada.
Muitas palavras foram ditas, outras tantas ficaram soltas no pouco ar que havia para respirar. Ele vomitava sentimentos por sobre a mesa. O olhar dela se afogava... Lágrimas encharcavam seu rosto..
Nesta noite o sexo foi sedento, confuso, angustiado. O último. Inevitável.
O dia amanheceu cinzento. Não! O mundo amanheceu cinzento.
Encolhida num canto da sala da casa que a acolheu, ela ficava tentando lembrar as cores do seu mundo. Quase entrando em si mesma ela repetia, incessantemente, que não tinha chão, que não via cores. Dias e mais dias se passaram com ela encolhida no chão. Não havia o que a movesse dali. Não havia mundo, nem cor. Não havia chão, nem mundo.
Aos poucos conseguiu levantar. Dias depois, caminhar.
Com a ajuda dos seus, foi retornando ao mundo e enxugando as lágrimas. Abraços foram devolvendo a noção de dimensão. Pessoas foram deixando sua voz em intermináveis conversas. Ela já conseguia perceber o dia e a noite, o calor e o frio. E só. Meses se passaram para que ela percebesse o mundo, mas seu olhar estava sem vida, sem desejo. Ela seguia ausente de si.
Um olhar opaco, destes que a gente olha e não vê. 
Iniciava, então, a mudança definitiva de posicionamento. Não importaria o preço desta caminhada, mas ninguém tiraria dela as cores que ela iria buscar. Estava nos anos 90.



Olhar opaco? Como assim?
Acordei com o olhar opaco! Que cilada é essa que a vida me apresenta? Já avisei que não admito isso pra mim! Já repeti mil vezes que nunca mais abro mão da minha suada conquista de autoestima! Então como é isso?
Espelho, espelho meu, como se atreve a me pregar tal peça?!
Como deixei que meu coração interferisse no meu olhar? Porque agora novamente, em pleno verão, com céu estrelado? Quase 20 anos depois!
Que vazio é esse que se apresenta e toma conta e me atordoa e me consome e me tira o sono e me dá tamanho cansaço?
Ora, ora, que onipotência essa minha em achar que minhas gavetas não se abririam!! Como elas não iriam abrir se eu abri meus sentimentos?!
Que sentimento é esse que me tirou do eixo?
Onde vou buscar forças hoje? Estou cansada, quero dormir. Dormir profundamente e acordar preenchida, preenchida por palavras e aconchego. Reluto e luto contra este silencio que me foi imposto. Luto contra o vácuo, contra o medo e a tristeza que sinto pela ausência.
Escrevo na tentativa de tirar de dentro de mim esta tristeza estranha que me remete a cenas lindas, que me fazem sorrir do nada. E, na medida em que agora escrevo, as cenas vêm renovadas, com cheiro e gosto, molhando meus olhos que piscam ritmados, me fazendo sorrir... ao lembrar cada detalhe.
Sorriso.
É isso!!!
É saber que o que está no passado distante pertence a outra vida, tem outras cores(esvaziei minha gaveta dos anos 90 somente em 2010, ufa..).
O que tenho dentro de mim agora é outra cena, outro momento, outra saudade, outra tristeza. Mesmo esta também precisa sair da gaveta. Preciso me desapegar e ficar somente com o sentimento de pertencimento vinculado ao que vivi e com quem vivi. Preciso respeitar o tempo e o tempo que o tempo dá. E se a vida me der a oportunidade de escrever mais histórias, que eu as viva, uma a uma, com o maior desprendimento possível, que eu deixe vir o olhar opaco, sem medo de me perder dentro dele, de perder minhas cores e meus sabores. Porque a vida é boa de ser vivida, e para viver temos que correr riscos.
Riscos calculados eu deixo para meus amigos das ciências exatas.
Eu prefiro o risco que faz suar frio, tremer por dentro, brilhar o olhar , esquentar o corpo, sair a voz.
Percebam o olhar, se olhem no espelho, encarem os desejos, abram suas gavetas, reorganizem o que dá prazer, descartem o resto e vivam muito e tudo.
Porque tocar a própria vida é bárbaro!!


























quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Dois


Durante anos Janeiro foi um mês de começos lentos, muito sol, noites gostosas.... planejamento, tempo para ler e pensar.....
Nos últimos anos este mês passou a ter outro significado:
Mês que meus dois amigos do coração fazem aniversário!!
Em função deles passei a tentar entender mais o Janeiro - 
Capricórnio e Aquário.
Para eles escrevo hoje.
Um deles é terra outro é ar.
Um deles é música o outro agridoce.
Um deles é perto estando longe o outro longe estando perto.
Um deles é bom senso o outro filosofia.
Um deles é prático o outro teórico.
Os dois são ensolarados.
Os dois são confiança.
Os dois são amizade.
Os dois são cumplicidade.
Duas cidades,
Duas distâncias,
Amigos comuns,
Longas conversas,
Um pouco de tudo,
Um monte de vida,
Um imenso carinho.
Se pudesse teria os dois bem pertinho de mim,
Se pudesse faria serem felizes pra sempre,
Se pudesse daria flores e beijos, presentes e desejos e tudo de bom nesta vida.

Feliz aniversário!
Feliz mês de Janeiro!

Amo vocês!!