segunda-feira, 28 de março de 2011

Isso ou aquilo ou nada disso

O olhar da minha filha indica que devo saber as respostas. Ela tem uma certeza absoluta que tenho as respostas. O incrível é que esta certeza dela vem da minha total dúvida. Frequentemente digo a ela que também não sei, que tenho que ver no dicionário, na internet, no jornal, que tenho que perguntar a alguém, sei lá... Ela olha pra mim como que duvidando, como se eu estivesse brincando. Ela ainda não sabe, mas é ela que tem a resposta. Ela é que confia tanto que sabe que eu sei antes mesmo de eu saber! Confusa dinâmica  estabelecida de antemão. Sigo certa de que a certeza dela vem da minha constante demonstração de dúvida. Com isso construímos nossa relação mãe e filha. Sem todas as respostas, bem longe disso, mas com verdade, com honestidade. É incrível como vamos perdendo as certezas com o passar dos anos e, mais incrível ainda, é que vamos ficando cada dia mais serenos e convictos por saber disso. Calma gostosa que aparece no meio de tantos pontos de interrogação... Gosto de saber que a vida é assim! Que posso fazer novas escolhas, que sou responsável por elas, que posso ir e vir! Quanto mais me acho, mais me cuido, mais me respeito e, sendo assim, mais respeito minha filha e os que fazem sentido pra mim. O amor de uma criança é direto, sem escalas, intenso, inteiro, fala frases completas, impacta e nos desacomoda. Não tem essa de dúvida, de não responder de pronto, de deixar para amanhã. É na hora e com olho no olho. Uma delícia! Mas temos que estar preparados e, se não estivermos, vamos ficar na marra....
Recebi este vídeo e daí saiu este escrito. Este vídeo me desacomoda, não tento entendê-lo, só senti-lo. Assim faço com várias coisas. Não quero entendê-las, quero vivê-las e só. Este já é um bom legado: ensinar minha filha a viver o presente, a não entender tudo, a me perceber incompleta, a duvidar dos processos, a brincar com a vida, a rir de si mesma, a errar sempre, para acertar com convicção. Que se suje, que borre, que grite, que chore, que desorganize! Do caos vem a saída, a melhor idéia, o crescimento, a identidade! Desta forma consigo me mostrar, desta forma disforme, desordenada e crua, que cai e levanta. Desta forma sou mulher e mãe, amiga e filha, provedora e protetora. Desta forma a convido a navegar comigo e a crescer menina e mulher.
Não tenho as respostas. Tenho as perguntas. Várias, muitas, infindáveis! Minhas certezas são sobre o que não quero. Posso responder sobre isso ou aquilo, posso perguntar sobre nada disso ou aquilo tudo ou ainda de onde vem tudo isso?! Quem quiser participar desta troca de perguntas e respostas que venha!! Nós gostamos de gostar e estamos prontas para gostar cada dia mais!


domingo, 20 de março de 2011

claustrofobia

Imensa lua. Céu claro. Noite outonal. Comida japa. Companhia light. Parece tudo dominado? Uma noite agradável de março? Não. Não dá pra sentir assim. Tenho um nó na garganta, um aperto no peito, um medo no estômago, uma dor nos ossos, uma tristeza avassaladora. Acendo todas as luzes? ou escureço tudo? Falo, grito, bebo, choro, esperneio? ou silencio, penso, leio, escrevo, medito? Posso ficar em casa ou sair. Posso abrir as janelas e deixar a lua entrar. Posso isso ou aquilo. Posso. Mas não me permito. Castro meus pensamentos. Enquadro meus sentimentos. Estou claustrofóbica.  Não quero saber. Não quero pensar. Racionalizar novamente me dá náuseas... Começo a remexer entre roupas e sapatos, entre papéis e emails, não acho o que preciso achar, não me acho. Fecho os olhos, começo a cantarolar velhas músicas, resolvo pegar fotos. Tenho milhares de fotos, muitas impressas, ainda no HD muitas mais. Anos de fotos, fotos por ano, por evento, por lembrança, por momento. Cataloguei tantas delas, outras tantas nunca imprimi. Falam de mim, de outros, de vida, da vida, da minha vida. Falam pra mim. Se mostram resolvidas, solucionadas. Fotos são o que são e ponto. Se mudamos de idéia, se resolvemos fazer outras escolhas, as fotos não têm nada a ver com isso. Eu que me resolva sozinha. Fecho tudo e guardo, bem lá em cima do armário, bem no fundo da prateleira. Lembro da história que escutei de uma amiga japa/paulista/gaúcha esta semana: sua amiga, que mora no Japão e bem perto do ocorrido, está ilhada no seu apartamento, sozinha, sem comida, com racionamento de luz, eventualmente acesso a internet. Ela está esperando, assustada, só. O que de fato faz sentido para ela? Qual o tamanho do seu medo? Se ela olha pela janela vê tudo coberto de sal grosso, abandonado, sujo, destruído. E ela segue lá, no seu apartamento, esperando... tempo... claustrofobia. Claustrofobia minha em saber dela. Claustrofobia que não libera meus pensamentos, que não se solta de mim, que aperta, prende e sufoca, que não some nem com grito, nem com vento. Aqui entre quatro paredes a dor é intensa e me sinto mesquinha e pequena se penso na dor dela. A lua entra pela sala, invade meu pessimismo. Ela vem me provar que posso olhar além da janela, ela olha aqui dentro, ela entra e interfere, acaricia o chão e os móveis, se impõe como dona e me desafia a olhar mais fundo, muito fundo, além da tristeza, além dos papéis. Me força a chegar até a luz, esta luz que temos dentro, que muitas vezes não enxergamos de tão lotada de carcaças e pó. Luz esta que nos renova, que nos estima, que nos faz ir lá no início de nós. Entre tantos devaneios começo a falar com ela, a trazê-la à tona, preciso dela para me refazer, preciso acreditar, preciso sair da claustrofobia. Já sinto novamente o ar outonal desta noite clara. Fecho os olhos e sinto na pele o gelado da lua. Apago as luzes da casa só para sentir a luz, a convoco para me fazer companhia. Ela me aquece. Já me sinto acolhida. Já posso dormir. Já acredito que amanhã terá sol.