domingo, 30 de janeiro de 2011

oLhAr OpAcO

Uma noite quente de verão, uma estréia no cinema, sessão esgotada. Dentro do carro, olharam as estrelas e resolveram jantar. Junto com o cardápio veio a notícia do fim. Entre a escolha do vinho e do prato, em duas ou três frases, acabavam anos de relacionamento. A sessão estava esgotada. A relação estava encerrada.
Sem voz, sem chão, sem fome, sem sede e com o olhar afogado em lágrimas, ela ali ficou. Imobilizada. Nada. Ela era nada. Acabava de ser deletada.
Muitas palavras foram ditas, outras tantas ficaram soltas no pouco ar que havia para respirar. Ele vomitava sentimentos por sobre a mesa. O olhar dela se afogava... Lágrimas encharcavam seu rosto..
Nesta noite o sexo foi sedento, confuso, angustiado. O último. Inevitável.
O dia amanheceu cinzento. Não! O mundo amanheceu cinzento.
Encolhida num canto da sala da casa que a acolheu, ela ficava tentando lembrar as cores do seu mundo. Quase entrando em si mesma ela repetia, incessantemente, que não tinha chão, que não via cores. Dias e mais dias se passaram com ela encolhida no chão. Não havia o que a movesse dali. Não havia mundo, nem cor. Não havia chão, nem mundo.
Aos poucos conseguiu levantar. Dias depois, caminhar.
Com a ajuda dos seus, foi retornando ao mundo e enxugando as lágrimas. Abraços foram devolvendo a noção de dimensão. Pessoas foram deixando sua voz em intermináveis conversas. Ela já conseguia perceber o dia e a noite, o calor e o frio. E só. Meses se passaram para que ela percebesse o mundo, mas seu olhar estava sem vida, sem desejo. Ela seguia ausente de si.
Um olhar opaco, destes que a gente olha e não vê. 
Iniciava, então, a mudança definitiva de posicionamento. Não importaria o preço desta caminhada, mas ninguém tiraria dela as cores que ela iria buscar. Estava nos anos 90.



Olhar opaco? Como assim?
Acordei com o olhar opaco! Que cilada é essa que a vida me apresenta? Já avisei que não admito isso pra mim! Já repeti mil vezes que nunca mais abro mão da minha suada conquista de autoestima! Então como é isso?
Espelho, espelho meu, como se atreve a me pregar tal peça?!
Como deixei que meu coração interferisse no meu olhar? Porque agora novamente, em pleno verão, com céu estrelado? Quase 20 anos depois!
Que vazio é esse que se apresenta e toma conta e me atordoa e me consome e me tira o sono e me dá tamanho cansaço?
Ora, ora, que onipotência essa minha em achar que minhas gavetas não se abririam!! Como elas não iriam abrir se eu abri meus sentimentos?!
Que sentimento é esse que me tirou do eixo?
Onde vou buscar forças hoje? Estou cansada, quero dormir. Dormir profundamente e acordar preenchida, preenchida por palavras e aconchego. Reluto e luto contra este silencio que me foi imposto. Luto contra o vácuo, contra o medo e a tristeza que sinto pela ausência.
Escrevo na tentativa de tirar de dentro de mim esta tristeza estranha que me remete a cenas lindas, que me fazem sorrir do nada. E, na medida em que agora escrevo, as cenas vêm renovadas, com cheiro e gosto, molhando meus olhos que piscam ritmados, me fazendo sorrir... ao lembrar cada detalhe.
Sorriso.
É isso!!!
É saber que o que está no passado distante pertence a outra vida, tem outras cores(esvaziei minha gaveta dos anos 90 somente em 2010, ufa..).
O que tenho dentro de mim agora é outra cena, outro momento, outra saudade, outra tristeza. Mesmo esta também precisa sair da gaveta. Preciso me desapegar e ficar somente com o sentimento de pertencimento vinculado ao que vivi e com quem vivi. Preciso respeitar o tempo e o tempo que o tempo dá. E se a vida me der a oportunidade de escrever mais histórias, que eu as viva, uma a uma, com o maior desprendimento possível, que eu deixe vir o olhar opaco, sem medo de me perder dentro dele, de perder minhas cores e meus sabores. Porque a vida é boa de ser vivida, e para viver temos que correr riscos.
Riscos calculados eu deixo para meus amigos das ciências exatas.
Eu prefiro o risco que faz suar frio, tremer por dentro, brilhar o olhar , esquentar o corpo, sair a voz.
Percebam o olhar, se olhem no espelho, encarem os desejos, abram suas gavetas, reorganizem o que dá prazer, descartem o resto e vivam muito e tudo.
Porque tocar a própria vida é bárbaro!!


























quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Dois


Durante anos Janeiro foi um mês de começos lentos, muito sol, noites gostosas.... planejamento, tempo para ler e pensar.....
Nos últimos anos este mês passou a ter outro significado:
Mês que meus dois amigos do coração fazem aniversário!!
Em função deles passei a tentar entender mais o Janeiro - 
Capricórnio e Aquário.
Para eles escrevo hoje.
Um deles é terra outro é ar.
Um deles é música o outro agridoce.
Um deles é perto estando longe o outro longe estando perto.
Um deles é bom senso o outro filosofia.
Um deles é prático o outro teórico.
Os dois são ensolarados.
Os dois são confiança.
Os dois são amizade.
Os dois são cumplicidade.
Duas cidades,
Duas distâncias,
Amigos comuns,
Longas conversas,
Um pouco de tudo,
Um monte de vida,
Um imenso carinho.
Se pudesse teria os dois bem pertinho de mim,
Se pudesse faria serem felizes pra sempre,
Se pudesse daria flores e beijos, presentes e desejos e tudo de bom nesta vida.

Feliz aniversário!
Feliz mês de Janeiro!

Amo vocês!!