sexta-feira, 15 de abril de 2011

caí estatelada

Fui atropelada. Novamente. Como pode? Garanto que prestei atenção! Tantos cuidados e caí na mesma cilada. De novo e de novo e de novo. Lá fui eu atropelada pelos fatos. Lá estava eu achando que entendia, já formulando certezas, caí. Caí de bunda no chão. Estatelada. Tantos foram os tombos nestas últimas semanas que precisei reaprender a andar. Sabe quando precisamos parar tudo e respirar? Pois é. Tive que fazer isso algumas vezes. O tombo mais forte foi num jantar, com pessoas que gosto muito e que, acima de tudo, respeito. Estávamos lá conversando e eu sentada, recostada na cadeira. Relaxada ouvia os relatos pessoais com afeto e aquele distanciamento relativo. De coração eu estava presente, mas com a razão construía verdades, como que em pensamentos paralelos. Quando tecia algum comentário, tentava fazê-lo para de fato acrescentar algo. De resto ficava quieta. Um gole, uma mordida na pizza, e eu certa de que tudo fluía. Com a arrogância dominando secretamente os pensamentos, totalmente disfarçada de solidariedade, poderia descrever como se meus pés estivessem sobre a mesa e a cadeira um pouco reclinada, sabe como é? Quem não se sentou assim quando estava totalmente à vontade? 
De repente, no meio de uma história de vida, contada em detalhes, com verdade e lágrimas, num total desabafo, o chão desapareceu e eu caí. 
Caí em mim, em cima de mim!! Eu tinha julgado o sujeito daquela história sem saber de nada. Eu simplesmente já o tinha definido e ponto. Como assim se detesto preconceitos?! Que onipotência essa de definir alguém!! Meus olhos caíram, minha cara caiu, cheguei a sentir as olheiras profundas surgindo em segundos. Caíram em cima de mim minhas certezas, meus pré-conceitos, meus julgamentos. Me julguei pequena, mesquinha, egoísta. Caí novamente por perceber que eu só estava mudando o sujeito, mas as críticas duras seguiam.. Em profundo silencio voltei pra casa. Depois de tanta caminhada, de saber tão bem o quanto é horrível ser julgada ou pré-definida, caí na cilada de achar que podemos definir alguém sem saber seu contexto. Só me ocorreu ligar para a pessoa e pedir desculpas (fiz minutos depois que cheguei em casa). Depois de horas fui dormir pensando que nada sei nem de mim, muito menos de outros. Estava nada. Aquela petulância virou constrangimento e fiquei sem fala. O que tenho em mim que é tão frágil, o que em mim não acredito, para que necessite julgar o outro? Não será isso outro julgamento? Não será isso também uma rigidez? O que faz com que pré-julguemos o que quer que seja? Que loucura é essa de certo/errado, bom/mau, branco/preto, 8/80, que cega a percepção do outro e de nós? Bahhh ainda estou digerindo estes tombos do meu ego, enquanto percebo o quanto tenho que caminhar.... Será que chego aos 100 anos um pouco mais gente? Sei lá, mas certamente tudo isso me aproximou da pessoa em questão e fico feliz pela confiança em mim depositada. Aprendi muito com ela entre uma e outra mordida na pizza.