quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Malas prontas. Rumo a 2011!


Começo a fazer a mala para 2011.Começo a pensar na viagem. O primeiro dia do ano e os outros 364 dias seguintes. O que será que me aguarda? O que vou aprender no caminho? Qual clima vou viver? Qual será a temperatura?
Preciso começar pela minha mala, depois penso na da minha filha.
Abro as portas do meu armário, vejo pilhas disformes de vivências.
Nunca fui milimétrica, jamais arrumei cada momento em ordem cronológica ou de importância. Tudo é importante. Se está no armário = é importante.
O que não está lá eu descartei. Taí uma parte que faço com tranquilidade - o descarte. Ao menos um item de sustentabilidade = habilidade de me sustentar, consigo com leveza. Ufa...
Olho as coisas dobradas nas prateleiras e as penduradas em cabides.
Importante clarear que d-e-t-e-s-t-o duas coisas no mesmo cabide. Não gosto de misturar momentos. Cada um em seu lugar. Cada detalhe, de um momento bem curtido, tem que ter espaço para respirar ou... suspirar...... Alguns preciso colocar com cuidado, senão escorregam e amassam. Outros se acomodam bem, foram feitos para estarem ali, convivendo com os demais.
Meus olhos voltam às prateleiras disformes e coloridas. Puxo uma ou duas coisas para ver se não há nada no fundo.
Sim!! Não há quem não guarde coisas beeem no fundo, quase esquecidas, mas que ficam incomodando e amassando as outras empilhadas.
Resolvo escolher cores, várias cores, tamanhos também são importantes, vá saber se estarei magra ou gorda, alta ou baixa, feliz ou entristecida.
A mala está aberta. Esperando.
Vai esperar mais um pouco. Ainda não me sinto pronta para 2011. Se desse, pararia o tempo um pouco. Para tomar fôlego.
Serão tantos desafios que fico cansada só de pensar.
De repente, do nada, algumas cores pulam para a mala como se indispensáveis.
As cores da maternidade! As cores de ser mãe, de brincar e chorar, de compreender e relevar, de aprender e cultivar, gritar e xingar e tantos outros milhares de verbos.
Preciso colocar a cor do desapego e a cor da vulnerabilidade.
A da coragem sempre levo comigo. Nem sempre consigo achá-la dentro da mala, nem sempre consigo usá-la. Nesses momentos predomina a cor da insegurança, muitas vezes confundida com o lado avesso, do medo, do arrepio, da dúvida.
Depois olho para os calçados. Nossa!
Como uma mulher escolhe qual calçado se todos são vitais?
Como escolher se vou caminhar, correr, voar, rastejar ou vou ficar parada?
É claro que vou caminhar. Talvez até correr...sei lá... mas preciso do conforto e aconchego, assim como do salto alto.
Fé, foco e salto alto - este é o lema.
Precisarei ficar alta, muito alta, para enxergar além de mim mesma.
Mas pantufas são parceiras dos dias de chocolate quente e solidão. Certo. Elas também vão.
Maquiagem. Não posso esquecer disso! Na verdade nunca usei muito, sempre gostei da cara lavada, da transparência, mas sabemos que a vida requer maquiagem muitas vezes. Seja para esconder rugas de expressão de uma noite mal dormida ou de uma lágrima caída. Seja para festejar e namorar, para um tom de sedução. Para dar o tom da conversa, outras para silenciar uma pergunta. De qualquer forma imprescindível. Já coloquei na mala.
Que tamanho será minha mala? Preciso ser focada e simples. Preciso poder carregá-la onde quer que eu esteja. Preciso de mim mesma inteira, preenchida, presente. Hummmm isso tá ficando pesado demais. Depois será insuportável levantar do chão.
Melhor levar os telefones dos meus amigos. Precisarei deles. Todos. Sem exceção. Guardo eles no coração, onde é o devido lugar e onde jamais pesa. Minha família já está lá dentro.
Bem, começo a saber como e o quê separar.
Ao lado da minha mala abro a mala da minha filha.
Sim! Outra mala!
Cada uma de nós tem a sua.
Cada uma de nós caminha um percurso.
Agora já preencho a mala com a ajuda dela, já escolhendo itens e percebendo outros que coloco para ajudá-la.
Enquanto penso em como fazer as malas, duas palavras insistem em vir aqui: vulnerabilidade e desapego.
Um dos amigos que carrego junto comigo trabalhou este tema em 2010. Há todo um estudo sobre vulnerabilidade, dando clareza ao fato de que pessoas que se permitem sentir desde seu coração = corajosas, se abrem a serem quem são. Estas pessoas, portanto, são mais fortes, e têm na vulnerabilidade uma qualidade, uma fortaleza, e não uma fraqueza. Ficam vulneráveis às percepções que vêm do coração, de sua fonte de sabedoria interior, e por isto se tornam fortes.
Lindo, hein?! Juro que quero sentir isso assim, tão bonito assim.
Desapego pratico diariamente há anos. Nem sei porque preciso exercitar tanto. Porque não posso simplesmente tocar a vida tranquila...
Sabe aquela coisa: trabalho, casa, familia, amigos e tudo de novo?
Deve ter um sentido. O sentido tem que estar ligado a sensação de estar feliz, senão perde a graça.
Seguirei montando minha mala e a mala da minha filha. Serão montadas com esperança e felicidade, pois todos os que eu amo estarão dentro de nós duas e terei todas as cores e as texturas para recebê-los e compartilharmos vários novos momentos.
Por aqui agradeço a cada um que escreveu 2010 comigo, que esteve perto ou longe, que deu significado para a minha vida e a da minha filha. Cada um sabe o significado que tem na minha caminhada. Cada um sabe que pode contar comigo sempre e pra sempre.
Minha coragem existe por vocês existirem e saber que posso pedir ajuda é vital para que eu faça da minha vulnerabilidade uma ferramenta de crescimento contínuo.
Fecho a mala com gratidão.
Sou grata a voces.
Sou grata a vida que me proporciona momentos coloridos.
Sou grata a vida que me proporciona o conviver com uma pessoa como minha filha.
Sou grata a vida por ainda ter meus pais comigo, por poder ver o sol e caminhar a beira mar.
Obrigada por poder me sentir viva!
Malas prontas, rumo a 2011.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Índice de Queridez



O que é? Ihhh já começou torta nossa conversa. Eu mesma não sei explicar....
Qual a escala? Todas! Todas aquelas cheias de números, de infinitas possibilidades, daquelas que a engenharia não ensina e não mensura, daquelas que a gente descobre sozinha por aí.
Como começou isso? Ah! Tá melhorando! Esta é mais fácil de contar...
Estava eu na vida, já com vários anos vividos, quando conheci algumas pessoas, apresentadas por outra pessoa, circuladas por mais algumas pessoas, onde todas estas pessoas olhavam mais de verdade que tantas outras pessoas até então.
Claro que parei para entender. Como naquela altura da estrada eu descobria pessoas que olhavam? E enxergavam??? Em que mundo andava eu até então, que contava como migalhas quem de fato olhava no olho? Na verdade eu pouco "migalhava" por aí, já usava óculos escuros direto e deixava rolar.
Um segredo - e isso é importante: por detrás dos óculos escuros sempre olhei nos olhos. Sempre tive uma curiosidade louca de estar dentro do sentimento do outro. Sei lá.. talvez para não olhar para os meus, talvez por curiosidade pura, ou por sedução, ou por controle. O fato é que sempre olhei, cada detalhe, cada movimento.
Pois é, de repente a vida me dava isso de presente. E mais, além de olharem, eles falavam, escutavam e compartilhavam, é sério! Não tô brincando, nem me gabando! Eles existem mesmo! E são vários!
Devagarzinho fui me aproximando, devagarzinho fui me deixando conhecer, sempre agradecendo a quem me apresentou a eles. É claro! Nunca fui mal agradecida!
Tem o que lembra de todas as novelas que já existiram(eu mesma não lembro de nenhuma), tem o galanteador, tem o afetivo emocional, tem o que saca de tudo um pouco, tem o que contextualiza, tem o que abraça e fica, tem o volátil, tem o que tem música por dentro, já pensou? música por dentro?!!!!!Delícia! É claro que têm elas também, isso não é uma explicação de gênero, nem de preferência, nem de alto ou baixo, preto ou branco. O masculino aqui é de acordo com a língua portuguesa, mas tá bem.. pode substituir por feminino algumas coisas, mas nem todas, porque o masculino predomina.
Queridez vem do coração, fala de coração pra coração, ama cada dia mais, diz e repete isso, mil vezes, milhares de vezes, agradece sempre, guarda sempre, é pra sempre!
Bem... é claro que sempre temos os prediletos. Nada de desmerecimento, nada de comparações, somente por alguns o coração bate mais forte, as palavras saltam da boca e daria pra falar com eles a cada coisa boa que me acontece.
Basta o dia amanhecer com céu azul, sol e vida que já posso contar. Se o dia amanhece cinzento, pesado, chuvoso, tenho vontade de ligar e chorar um pouquinho.
A cada ganho dividir com eles, a cada perda, pedir um pouco de colo.
Alguns deles roubaram meu coração, acho que faço qualquer coisa por eles, humm.... bem... é... mas certamente por algumas roubadas. Lembro deles e penso em cerveja e música, lareira e vinho tinto, um bom churrasco, uma mesa de bar e horas de filosofia. Cada um deles aqui se reconhece, cada um deles sabe que faz parte de mim, como se fizesse desde sempre.
A foto que tá aqui é a que melhor representa o alto índice de queridez. Um dia especial na vida de dois especiais – casamento. Tá aí um bom motivo para abraço. Tão bacana casamento. Tanta felicidade junta num dia só. Já vivi isso, de vermelho. Já vivi início, meio e fim. Bacana quando a gente vive tudo e fecha ciclos, mas isso é outra conversa.
Sabe o dia de hoje por aqui? Com sol, céu azul, pássaros nas árvores, portas que se abrem e abraços de filha? Sabe este dia que a gente já levanta acreditando? É incrível como em dia como este a gente recebe email bacana, mensagens legais. A gente até escuta o sino da igreja tocar! E não é viagem! É que aqui muito perto tem mesmo uma igreja e o sino tá tocando agora! Que incrível! Deve tocar todos os dias e só hoje estou apta a escutá-lo.
Por mais vontade que eu tenha de seguir aqui escrevendo, porque quero chegar na definição de índice de queridez, preciso sair pra buscar minha filha no Colégio. Em 2010 vou a pé buscá-la e de chinelo havaianas, totalmente bicho grilo, um luxo. Normalmente voltamos cantando e vendo as formigas carregando folhas, ou cumprimentamos um cachorro preto que mora aqui perto, tudo isso depois de um picolé na frente do Colégio e muita conversa com todos os que lá encontramos. Acho que hoje vou comer picolé também, tenho certeza de que, em dias assim tão ensolarados, picolés não engordam!
De volta do colégio, agora já de madrugada, volto ao índice. Entre bocejos e cansaço, faço questão de chegar ao fim, ou melhor, ao meio. Aos meios que nos levam a perceber pessoas ao nosso redor. A possibilidade que a vida nos propicia de conhecer profundamente outros, de nos desnudar na frente deles, de construir relações pra sempre. E, mais uma vez, a vida passa certeira, nos mostrando o valor que tem a amizade. Este sentimento que sobrevive a tudo e sempre, que está linkado ao coração direto, sem escalas, que nos dá chão e torce conosco. Que não dorme, não se distrai. Presente.
É um presente.
E quanto vale sentir isso por dentro? Vale muito, sou rica, riquíssima! Tenho tanto dentro de mim que transbordo!
E, neste momento de vida, tanto faz estar ou não de óculos escuros, quero ver e ser vista, quero olhar no fundo do olho, quero tudo e muito, alto índice de queridez.
Façam aí os gráficos que lhe convierem, determinem os eixos, desenhem a curva, vivam muito! A cada dia vivido, a cada dia que escutamos o sino da igreja e enxergamos quem nos olha nos olhos, é mais um dia de alto índice de vida.
E se até aqui não deu pra entender nada deste tal índice de queridez, talvez esteja na hora de tirar os óculos escuros, por que não serei eu quem vai determinar a quantidade envolvida de amor em uma amizade. Mas vai uma dica: se quem tá ao redor tem baixo nível de queridez, libera a área e deixa outros entrarem, a fila anda pra amigos também. Agora se tá tudo meio cinza e não sabes perceber que história é essa, talvez tenhas que começar do começo: te cuida, tira os óculos escuros e te olha quando passares por um espelho!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mosaico


Está na hora de sair dos textos de tempos passados e deixar fluir o que me move agora.
Já remexi as gavetas, já rearranjei os significados e, se houverem ainda momentos que me levem lá, aproveitarei as palavras, descreverei os sentimentos, utilizando os verbos no passado, para deixar no lugar certo o momento vivido.
Como tenho o pedido para escrever sobre minha trajetória dentro dos 40 anos, aproveito a temática para entrar no Agora.
Foram nestes primeiros 5 anos dos 40 onde me posicionei com firmeza.
Com minha filha olhando dentro dos meus olhos e procurando em mim o referencial feminino, defini que nesta vida quero ser feliz agora.
Comecei quebrando os pedaços que ainda me pareciam perfeitos demais, juntei todos os cacos, sacudi todos eles assim como se sacode um vidro de cereais e comecei meu mosaico.
Pedaços disformes, irregulares, encantadores vão se mostrando e tomando seu lugar.
Recomeço a me montar deslumbrada com a força que descubro ter diante da única opção - a de seguir em frente.
Cada pedacinho requer cuidado e respeito.
Cada um é importantíssimo para o novo desenho.
Eu mesma tenho que fazê-lo. Não posso delegar.
Não posso procrastinar. Não tenho como parar.
É assim os 40 anos, energia, foco, determinação, minha filha crescendo comigo.
O prazer de assumir total responsabilidade sobre minhas escolhas e sobre meu trajeto.
Meu mosaico segue perseguindo as cores.
Não tenho mais pressa, agora sei esperar.
Não é complacência, é paciência, é conhecer os limites, é se aceitar.
Estou pronta hoje para o que a vida me solicita hoje.
E que venham as mudanças, elas confirmam que estou viva!


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

tocar-se

olhar o mar, escutar o mar, estar no mar, tudo ajuda a caminhar
ou, no seu caso, a correr.
depois dos tempos de inércia, veio uma vontade danada de correr,
e aquele parecia um dia de verão qualquer.
mas não era.
nem lembrava há quantos anos não se via só
ou quanto tempo não se permitia pequenas e secretas aventuras.
seu pensamento, sempre focado no desejo do outro, ou, se não bem isso,
nada focado no seu próprio desejo.
na noite anterior, calor, tanto calor que nada podia tocar o corpo, deitada
escutava suas músicas prediletas, cada música uma lembrança,
algumas intensas, outras divertidas, lembrava e
sorria ao lembrar, deixou fluir,
começou a lembrar detalhes
e, lentamente, permitiu se dar prazer,
resgatava nela a capacidade de se tocar, ritmar, sentir, lembrar, molhar, gozar
carinhos com música, carinhos em todo o corpo,
sentindo cada toque.
depois a paz, o silêncio da rua, o cantar do mar cadenciado, o sono.
porque não fazia mais vezes isso?
tão bom, tão básico, tão essencialmente feminino.
deve ser assim o encontro feminino, cuidando de cada detalhe, sentindo com o toque e pulsando, dando o ritmo.
ela sabia qual o significado.
a vivência estava nela, dentro dela.
outro dia e sair, caminhar, sentir, ir e vir,
vento forte, dia nublado, mar mexido.
resolveu gastar, exercitar, suar, se possível gritar.
e, quando, novamente com sua música, saiu a caminhar, o céu ficou azul, o sol forte, o verão pleno, vento, tanto vento que jogava os cabelos pra trás, servia de resistência, forçava cada passo, e ela, com sua música, sorria novamente,
lembrava das brincadeiras da manhã com sua filha, lembrava de amigos, amores e assim caminhou por horas, sentindo, sorrindo, feliz, plena.
era isso que precisava.
já conseguia retornar e assim o fez.
a rotina então lhe pareceu colorida, ótima.
havia dedicado horas para cuidar-se, para tocar-se.
cada dia um passo
para sentir de verdade, de dentro pra fora.
já é noite.
sorri e imagina um olhar mesclado de convicto e divagador.
ficará somente no fundo dos olhos o que dentro do corpo acontece.
ela já sabe como viver isso, um segredo entre ela e ela.
para a filha irá ensinar o que está aprendendo agora:
que sentimos de formas diferentes
que sentir não gera culpa, não tolhe
sentir liberta, faz voar, fortalece, dignifica, surpreende.
está pronta para seguir.
desliga a luz.
dorme.

quantas mulheres não se provam?
e dependem da boca do outro para saberem que sabor elas têm?
quantas mulheres não se tocam?
(texto de 2008)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

LúCiDo e LúDiCo

Texto que sintetiza 2008:
Com leituras cruzadas de prosa e de poesia, vivo o desencanto e tento reconstruir a mim mesma. Tenho sede de vida. É falso pensar que tenho domínio sobre as palavras, que posso manter distancia do que elas tentam me dizer. Igual a uma traça, me delicio com o toque do papel e o barulho das páginas. Engano-me propositalmente. Não quero ter o controle. As páginas me levam.
No silencio solitário da leitura percebo que um sentimento me faz companhia, ele está em mim há anos, um sentimento pleno e colorido que sabe mais de mim do que eu dele. Ele resolve aparecer ocupando meus pensamentos de forma transbordante e se dizendo digno de tomar conta de mim. Ele vem pisando firme, convicto, preponderante. Com medo, argumento a precipitação. Não sou ouvida. Ele manda, eu obedeço. Na tentativa de dominá-lo convido-o para estar comigo e ele aceita. De repente me sinto dominada, sobram palavras, perco a vontade de ler. Me perco.
O escuro potencializa meus sentidos e, mesmo tentando não entender o que sinto, meu corpo se rende pulsante e frágil ao desejo de roubar. Roubo, me apodero, quero todo o gosto, tudo comigo, dentro de mim.
Dou-me alguns direitos e, o melhor deles, é enfraquecer diante deste sentimento que se tornou consciente.
Ele é lúdico ou lúcido, ou lúcido por ser lúdico.
Lúdico sendo alegre e me fazendo sorrir a todo o momento, tendo em si todas as cores.
Lúcido por chegar na hora certa, se mostrar sem disfarces e com a intensidade devida, por ser parte de mim, por viver em mim sem posse.
O amor-próprio lúcido e lúdico. Um conhecido há anos que usualmente eu não deixava aparecer e, quando acontecia, rapidamente controlava sua participação.
O desencanto, no seu processo preto e branco, fez com que este amar surgisse tão forte. E a partir daí qualquer palavra lida nada mais é que um movimento voluntário de busca interna por ele. Agora retorno a leitura. Leio para ele, leio com ele.
Sorrio por fora, escancaradamente.
Não me interessa mais o controle.
Este encontro me fortalece.
Este encontro comigo mesma.

tocando a vida


De repente percebi que sigo tocando a vida.
E aqui, hoje, dezembro de 2007, começo a escrever sobre o tocar a vida daqui pra frente e sempre, dividindo esse colocar em movimento com o leitor imaginário, divagando nesta forma de silêncio acompanhado, sem preocupação com estilo ou forma.
Procuro expressar o sentimento da forma mais verdadeira possível, se é que podemos ser verdadeiros através de palavras. Sempre que as escrevo elas me manipulam escrevendo de uma forma a seduzir meu processo e a desviá-lo dos trilhos.
De qualquer forma necessito delas e, mais ainda, necessito escrevê-las.
Tocar a vida é também saber falar sobre ela.
Passo pela experiência de ter que tocar a vida, caso contrário seria atropelada por ela.
Tocar aqui é movimento, é precisar mais do que querer, é respirar mais do que caminhar.
Tocar é sentido, todos os sentidos.
Tocar com a ponta dos dedos, acariciar, permitir descobrir pelo toque, gravar nas digitais cada pedaço.
Tocar com a boca e com a língua, sentir cada gosto proporcionado, descobrir o prazer do gosto gostoso, lembrar do gosto que gostávamos, que era o predileto, antes mesmo de ser provado.
Tocar é música, daquelas que fazem levantar, sair e correr, tremer por dentro, cantar sozinha, dançar até suar, que escreve e descreve o vivido, que nos posiciona no tempo.
Tocar é sentir o cheiro da vida, do gozo, da pele, do lugar onde queremos estar, da casa de infância, do bolo no forno, da pele depois do sol, da chuva na grama.
Tocar é confirmar com o olhar o sentido para o qual caminhamos, que cor é o mundo, que forma e tamanho podemos suportar dentro da gente, é vetor, é fálico, é pulsante.
Com um frio na barriga, um medo louco, que fecha o corpo e desfalece, mas que renova e reergue, que sabe que não tem como parar e segue, sempre e inquieto, resolvo tocar a vida!
Compartilho aqui com os amigos que amo e toco, com os que amo e não permitem ser tocados, com os que tocam para mim, com os que tocam a vida, com os que tocam outros instrumentos, com aqueles que me tocam profundamente, outros que silenciam ao toque, com os que fogem, todos e cada um que com seu jeito de ser me ajudam a tocar a vida.
A coragem vem de uma delas, blogueira recente, que me fez abrir a gaveta e publicar meus textos.