domingo, 15 de abril de 2012

bolo no forno


desenho da Laura no Paint

tocar a vida sempre requer dedicação....
mas é bárbaro!
depois de meses paro para escrever um pouco...
uma saudade imensa de amigos me fizeram sentar aqui e escrever.
queria poder estar aí, olhando nos olhos e contando da vida, sem ter que olhar o tempo passar;
queria estar perto, tão perto que os joelhos se encostariam e, num abraço apertado, daqueles que dizem o que não sabemos dizer, passariam minutos até lentamente soltarmos o abraço e seguirmos o silencio do afeto;
queria gargalhar e chorar das tuas histórias, ter no fundo cheiro de churrasco, bebida gelada e sorvete de sobremesa;
queria sentar naquele café de sempre, jogar conversa fora e pensar em como solucionar o mundo ou ao menos o nosso mundo de dentro;
queria filosofar por dias intermináveis, até me perder em tantas idas e vindas de nós mesmos e retornar ao início com total fluidez;
queria poder contar como estou, o que tenho pensado, o que já encontrei e o que já não procuro mais;
queria ter este pedaço de tempo para estar com cada um dos meus amigos, 
feliz como me sinto hoje, 
dizendo a cada um que no meu eterno tocar a vida, eles são presentes, estão presentes, fazem parte, são parte e que estou inteira de mim mesma!
e antes que comece mais uma semana, fica aqui um oi escrito no lugar do oi falado, minha porta aberta com cheiro de bolo no forno e chimarrão, a espera de cada um de vocês para uma gostosa conversa e um mega abraço apertado.
estão convidados!

domingo, 1 de janeiro de 2012

aQuI


Escolhi estar aQuI
Encerro este ano aQuI
aQuI onde vivo, onde trabalho, onde está minha rotina, onde as horas e os dias do ano passam por mim e eu tento fazer sentido a eles e a mim mesma, onde me recolho e até encolho e onde ouso testar meu vôo.
aQuI onde estou agora que escrevo.
E são tantas as escolhas feitas ao longo da vida e, de repente, este ano descobri que todas elas são parte de mim, montam meu mosaico de todos os milhares de pedaços coloridos e disformes que se entrelaçam a compor um desenho tão e somente meu.
Não foi uma surpresa repentina, não foi nada místico ou sobrenatural, não foi uma constatação intelectual, simplesmente me apoderei de toda a minha história, de cada caminho que percorri... e passei a me enxergar inteira, somatório de vida vivida.
Aprendi a respeitar esta história e, a partir disso, aprendi a respeitar mais a história de quem convive comigo. 
E comecei a julgar menos, a escutar mais, a silenciar mais. E a lucidez da escuta fez e faz com que meu silencio interno predomine e me faz pequena diante da vida do outro e de tantas vidas que me circundam. E tantas coisas estão aQuI, bem na minha frente, para serem feitas e vividas... e tantas coisas que ainda não vivi aQuI.
Uma coisa leva a outra e outra leva a uma, sei lá, e me percebo com uma vontade de vida imensa, de compartilhar esta minha sensação de liberdade vinda do fato de eu saber que minha história está comigo e que ela me acolhe, quando o silencio de fora me desafia e me questiona. Questiona para ver se estou alerta, se não me entrego cansada a esta altura do caminho, se ainda sigo convicta minha escolha. Sentada com ele para conversar fecho os olhos e sinto o cheiro e o calor deste aQuI que me acolhe e me aceita.
Estive esta semana escrevendo enquanto vivia o silêncio das minhas escolhas. Um silêncio absoluto, que por momentos me fez parar de respirar, questionando as tantas mudanças que fiz na minha vida e que me levaram a estar aQuI, neste aQuI solitário, nesta noite linda de verão. Então fechei os olhos, parei de digitar, recuperei o compasso da respiração, visualizei o momento passado, e percebi que naquele momento fiz meu melhor, fiz tudo o que eu podia. Sem me julgar consigo abrir os olhos e seguir.
Outra descoberta deste ano: recuperar a força que necessito para tocar a vida sempre de dentro pra fora.
É necessário parar e perceber este meu aQuI. Este aQuI que tenho por dentro, este aQuI que não tem endereço no Google, que só eu sei em que parte do meu coração consigo conectá-lo. Eta coisa difícil de fazer..... mas quando consigo é lindo, tem uma luz branca que me abraça, me dá colo, me esquenta de dentro pra fora.
É claro que tem a ver com meditação. É claro que nem sempre consigo meditar, mas compartilho com vocês que quando consigo faz diferença e que fez diferença este ano que está chegando ao fim.
Este ano não fiz malas, não sai, fiquei aQuI. 
Não tá fácil segurar meus pensamentos, não tá fácil ficar em silencio absoluto. Esta semana mandei mensagens, postei, escrevi, fiz exercícios, fui pro sol, caminhada, leitura, tudo para me fazer companhia. E cada momento que isso me parecia em vão, eu pegava minha caixa de vivencias, onde guardo meus tantos anos de vida, e  me alimentei dela, das lembranças, das certezas, dos caminhos, das escolhas, dos amigos.
Mexendo nesta caixa me dei conta que algumas poucas pessoas eu perdi, não por terem morrido, mas por eu não ter conseguido me expressar corretamente com elas, por ter as deixado escorrerem entre os meus dedos, por tê-las julgado ou por ter sido julgada por elas. São poucas, muito poucas, mas são. Elas pra mim são. Em que categoria deixá-las em mim? Não tenho como ignorá-las, elas fazem parte desta vida que me apoderei e tenho certeza de que vivi com elas o meu melhor, seja ele qual tenha sido.
E lotada de histórias e ferramentas, aQuI sentada, no silencio das minhas escolhas, me preparo para 2012 que será mais um ano de realizações e vivências, de silêncios e cansaço, de escolhas e caminhos, de tantas coisas boas ou não tão boas, mas todas serão da minha vida e terei orgulho de cada uma, assim como tenho admiração e orgulho de cada pessoa que faz parte desta história.



domingo, 13 de novembro de 2011

hOjE fOi aSsIm

Hoje foi assim: deixei minha filha na casa do pai dela, tinha sol acompanhado de um vento primaveril e, eu comigo mesma, resolvi colocar os pés no chão.
É incrível como passamos dias sem colocar os pés no chão! Sempre com sapatos ou até descalços, mas no piso frio da casa, no assoalho dos quartos, no alto de andares...
Hoje eu precisava aterrar! Mexer os dedinhos! Caminhar na terra e na areia de praia!
Opção: ir direto pro clube onde tem terra e areia a vontade, onde tem pássaros cantando, barulho de água corrente, peixes e árvores, silencio de domingo e, claro, é cercado.... sim absurdamente  precisamos de segurança para colocar os pés no chão!!
Para simplesmente tirar os tênis e as meias e caminhar de pés descalços. ...
Mas era uma necessidade vital. Sabem como é? Quando nada é mais importante do que caminhar de pés descalços? Bem, eu sou assim. Preciso disso.
Assim como preciso olhar o mar algumas vezes por ano.
Necessidade básica de não enlouquecimento.
Adoro olhar longe, adoro mato, mas mar é outra coisa.... mar é mãe, é luz, é vida pulsante, iemanjá, imensidão, é tudo.
Hoje não podia ir tão longe. Então fui caminhar na metragem quadrada de areia de praia que tem no clube. Sentei, deitei, fechei os olhos e fui até a praia.
Fui ficando ali... meditando, organizando as idéias, tentando aterrar e aterrizar os pensamentos e os quereres, depois de algum tempo abri os olhos. A areia quente e o sol alto me avisavam que já eram 13h e eu tinha que ir, amigos me esperavam.
Enquanto calçava os tênis, me dei conta que havia ficado num quadrado do tamanho de uma quadra de vôlei de praia por um bom tempo. Enquanto eu tentava me organizar por dentro, um quadrado me dava o limite por fora.
Logo eu que adoro transitar por fora do quadrado, havia me deliciado por dentro de um J
Deliciosamente fiquei sentada mais alguns minutos, do lado de fora do quadrado, percebendo o que havia ali para entender nesta história enquadrada..
Resolvi, então, que já era hora de escrever novamente por aqui e agora, já noite, sento para digitar e dividir minhas divagações limitadas pelos quadrados que carrego em mim.
O que me levou a não escrever mais, foi  viver mais!! Vivo há meses de forma tão intensa que não sobram palavras. As deixo nas ruas, nos amigos, nas vivências e me recarrego de sensações e de afeto. Estou tão de bem com a vida que me parece bobagem escrever. É como se escrever fosse, para mim, a única forma de elaborar a dor, a única forma de esvaziar angústias e que, sem elas, não há palavras.
De repente hoje, me dei conta que posso partilhar também bom humor, um dia feliz, uma energia boa, pois quem me lê aqui tem pra mim grande importância e são totalmente merecedores de boas vibrações.
Nestes últimos tempos entendi que não preciso obrigatoriamente ter uma temática ou escrever frases densas, posso ser simples e ser só isso.
Posso escrever fora do quadrado da gramática e fora do quadrado dos dizeres intelectuais. Posso transitar fora do quadrado da sensatez e dançar por lá sem ritmo ou virar estrelinhas - sentido figurado, pois nunca aprendi a fazer isso :(.
Ou quem sabe telefonar para alguém com quem nunca falo. Ou talvez enviar um email de agradecimento, agradecendo nada, só o fato de estar grata no dia de hoje.
Quem sabe ligo ou faço um desenho, quem sabe danço sozinha na sala ou compro uma roupa laranja e verde limão! Quem sabe leio livros de conteúdo consagrado ou compro uma revista feminina cheia de fotos! Ou como um pote de ambrosia sozinha sentada na sala e vejo um desenho animado.
O que tem que ser feito? O que tem dentro do quadrado? Ainda não sei tudo o que tem dentro do quadrado, pois passo a maior parte do tempo do lado de fora! Também não sei tudo o que tem fora, mas sei que moram os comuns, os que erram várias vezes, os que se ridicularizam de amor, os que choram de rir, os que perdem tudo e todos, os sem cor e os multicoloridos. Fora tem o chaveiro que eu conheço desde criança, o sapateiro, a moça que descasca a maçã da Laura no intervalo do Colégio, os pedreiros do prédio da frente, o cara na parada de ônibus, os tantos outros... Fora tem gente querendo ser visto, tem gente querendo acertar uma vez na vida, tem gente que borboleteia e gente que faz. E dentro? Dentro tem todo esse povo também e outros tantos mais..... e eu transito de dentro pra fora e de fora pra dentro, a cada dia julgando menos, curtindo o que cada um tem para dividir comigo e dividindo com cada um o que tenho de melhor no agora.
Quando todos os de dentro se encontrarem com todos os de fora faremos uma festa do agora e, desde já, estão todos convidados!!
E agora cá estou eu, nada preocupada se estou sendo coerente ou não! Estou sendo meu melhor  e ponto. E que gire o mundo e que ele nos propicie poder falar ou silenciar, estar só ou acompanhada, ser branca, preta ou amarela, magra, gorda, velha ou não, que sejamos gente e que tenhamos gente ao nosso redor.
Porque ter amigos e amores é tudo nessa vida!
E assim foi este dia de domingo igual a tantos outros, mas que me devolveu as palavras e com elas comigo escrevo aqui, conversando com cada um que me lê.
Bárbaro!!
Simples assim!
De bem com a vida!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

BODAS DE DIAMANTE

Domingo passado fui a uma festa de Bodas de Diamante! Para quem não sabe, assim como eu, dias antes do evento, esta data comemora 60 anos de casados!  Meus amados tios comemoraram este dia rodeados de filhos, netos e bisnetos, além de irmãs, sobrinhos, filhos dos sobrinhos, amigos de jornada, vizinhos. Todos os que tornaram este somar de anos possível. Um almoço, flores de centro de mesa, chimarrão na chegada, comida caseira, bolo de noiva, fotos, frio, chuva, músicas, lembranças, histórias e tudo parecia tão normal que poderia ser o aniversário de qualquer um que estivesse lá. De repente o bisneto de 8 anos pega o microfone e pede atenção de todos para vermos um vídeo. E com uma apresentação de Power Point começaram a ser mostradas fotos e frases. Fotos deles namorados, do dia do casamento, dos primeiros filhos, fotos que víamos quando criança, que achávamos engraçadas, preto e branco, hoje amareladas. Fotos que lembramos do dia em que foram tiradas, fotos de todos juntos, de natal , de praia, de quintal e sítio, daquelas que nosso cabelo não tá arrumado, que não passaram por photoshop, que as crianças chegam correndo e fazem caretas. Fotos de todos apertados, amontoados, rindo, dizendo X, dos tios que já se foram... Aquele sofá de fundo que já não temos mais, as paredes que já pintamos de outra cor, o cachorro, as ovelhas, as bergamotas! E as lágrimas começam a cair como um chafariz. Uma emoção gigante toma conta e as fotos do Power Point já parecem embaçadas. Como pode passar tudo tão rápido e ter tanto significado! Para colaborar com a choradeira vieram os testemunhos, os discursos, as declarações públicas de amor. Lindamente singelo. O valor da construção familiar sobrepondo os quereres individuais. Entre brigas e reconciliações de tremer a casa, os dois jamais pensaram em seguir sozinhos. Juntos ergueram a família do nada. Juntos começaram do zero, levantaram tijolo por tijolo com muito trabalho e determinação. Criaram os 4 filhos com zelo e dificuldade. Mantiveram a família por perto, com doses diárias de moral e amor. Cultivaram os rituais da igreja e da família. Sabem sempre o aniversário de cada um de nós. Discordando e resmungando iam dormir abraçados. A cada aniversário de casamento iam refazendo os votos. Para alguns que estavam lá eles são exemplo de perseverança. Para outros, quase um milagre. Para mim são meus tios amados, meus pais de coração, os tios que me acolhiam sempre, que faziam gostosuras, que cantavam pra mim e que me deixavam dormir nos pés da cama. Para mim um exemplo de que temos que ter objetivos de vida e segurar a retranca do tempo, que nem sempre conta a nosso favor. A grande meta deles está atingida – a família estava toda lá, inteira e consolidando a crença de que rituais fortalecem estes laços e, sendo assim, todo o resto valeu à pena. 

quarta-feira, 18 de maio de 2011

E SE FOSSE EU?


Um amigo resolveu fazer o Caminho de Santiago. 
28 dias caminhando. Desencadeou em mim mil perguntas. E SE FOSSE EU? E se eu pudesse passar 30 dias comigo mesma?
Há anos desconheço o silêncio fora de mim. Talvez eu até tenha, desde sempre, um cantinho, dentro de mim, no qual me permito silenciar, mas fora não tenho. Apesar de saber que estaria caminhando grande parte do dia, tenho a sensação de que conseguiria parar um pouco esta velocidade enlouquecida de pensamentos, esta expectativa coletiva que exige que sejamos felizes, plenos, sem deixarmos de ser comuns, iguais, rotineiros e previsíveis. 
Nunca fui igual. Não tinha como ser igual sendo ruiva, branca, enquanto todas eram loiras, morenas e bronzeadas. Fui magérrima quando outras tinham curvas, fui quieta quando todos gritavam e escrevia quando ninguém lia. Sempre por dentro só, por fora acompanhada. Sem talento para o esporte, abandonando a música, emudecendo para ser escutada. Muitas vezes corri desesperadamente para que a porta não se fechasse, tentei segurar a mão dos que eu amava, mas eles morreram... tentei segurar o cheiro deles... Sempre numa cidade, nunca viajante, mesmo assim com a sensação que, de fato, não sou daqui. Às vezes escuto relatos de quem foi longe para se encontrar e penso o quanto já fui longe dentro de mim nesta mesma procura... Vejo que chegamos ao mesmo lugar.
Poder deixar tudo e caminhar olhando longe, segurando num cajado, poderia ser uma boa forma de deixar meus pensamentos repetitivos roucos, afônicos, inexistentes...
O que será que sonharia estando lá? Como seria a fome e a sede? Como meu corpo responderia? Que dor sentiria? Onde? O que conversaria comigo mesma ao som do nada, dos passos, do iPod? Levaria músicas? Que lembranças me preencheriam? Quais as que seriam recorrentes? Que imagens viriam primeiro e por quê? Quem de fato tem significado na minha vida? A quem dou nome e papel? O que faço por mim mesmo e o que faço para que os outros gostem de mim? Doação ou aceitação? De onde vem minha energia? Em que acredito? Será que rezaria todas as noites? Ou deitaria podre de cansada e nem me lembraria de rezar? Será que ficaria sem ligar para quem amo? Será que amo com desapego? Bem... talvez em 30 dias eu de fato percebesse o que sinto no coração, como escuto meu coração, como trato sentimentos como desapego, aceitação, perdão, culpa e ressentimento... ou não. Ou esqueceria a importância disso tudo e só caminharia. Será que conseguiria deixar isso tudo lá pelo caminho? Será que longe, neste lugar lotado de energia, eu conseguiria esvaziar gavetas, elaborar minhas perdas? Sentiria na pele a saudade da minha filha. Eternos muitos infindáveis dias se penso nela. Rápidos em relação a mim mesma. 
Faria amizades nas caminhadas, conversaria por horas, escreveria por tantas outras? Escutaria as várias histórias, os vários porquês? Penso que sim. Perceberia com prazer as feições, os olhares, e amaria profundamente cada um que me percebesse sem me pré-definir. Cada um que me enxergasse de cara lavada, rugas, olheiras, pés cansados, corpo quente. E cada toque das mãos, cada sorriso no percurso, cada lágrima percebida, faria eu me apaixonar pelo outro, por ele me deixar vê-lo sem couraça. Será mesmo que conseguiria ir desprovida de defesas? Ou ao menos baixá-las por lá? Será mesmo que seria capaz de perceber a energia do lugar? O que está nas entrelinhas? O que nos é sinalizado no comum? Certamente estaria de coração aberto, assim como estou atualmente, mesmo aqui numa mesma rua. Será que haveriam estrelas no céu? Ou cairia uma chuva danada de forte? E quanto tempo eu levaria para secar? Será que eu choraria junto com a chuva? Será que ainda teria lágrimas depois de tanto chorar? Como seria o amanhecer? O que me despertaria e me encheria de energia para mais um dia de caminhada? Seria de novo um desafio de resistência física e emocional? Que desafio haveria por trás deste propósito? Será que suportaria mais desafios do que tenho me provocado nos últimos anos? E os dias iriam passando, um a um, no seu inevitável ritmo... E eu? Passaria caminhando por eles, sentindo nas passadas os segundos ou nem perceberia as horas? O que deixaria lá de lembranças passadas para trazer de volta em novas imagens?  E daqui a 10 anos, o que desta caminhada iria querer ou iria poder lembrar?  Será que desta vez aprenderia a não ter estes controles todos? Será que eu conseguiria somente viver a caminhada e me permitir aproveitar a plenitude do agora? Lembrei das minhas meditações. Há alguns meses medito diariamente, procuro esvaziar o que é pensamento repetitivo e me organizar de forma produtiva, focando no que de fato agrega ou possa agregar no dia. Assim me conecto comigo, reforço minhas escolhas e sigo. Através disso surge mais leitura, mais escritos, mais vivências, e sigo meu caminho de desapego de várias necessidades aparentemente básicas e de pessoas que têm grande significado pra mim, mas que a recíproca não é verdadeira. Não julgar e desapego. Outros dois grandes e eternos exercícios... será que esta caminhada me ajudaria? Será que é importante ter respostas? Será que o caminhar por horas propiciaria muitas perguntas? Destas que a gente nunca se faz, por falta de tempo e de coragem? Será que eu conseguiria não me julgar em tais perguntas?
Em cada passada perceber o dia. Saber a hora de descansar. Saber a hora de seguir. Saber pedir ajuda. Saber escutar. Olhar os detalhes. Aproveitar o silêncio. Escolher seguir ou ficar. E agora, diante de tantas perguntas, basta seguir a caminhada e tentar respondê-las. A viagem até aqui já está ótima, já me sinto presenteada!!




sexta-feira, 15 de abril de 2011

caí estatelada

Fui atropelada. Novamente. Como pode? Garanto que prestei atenção! Tantos cuidados e caí na mesma cilada. De novo e de novo e de novo. Lá fui eu atropelada pelos fatos. Lá estava eu achando que entendia, já formulando certezas, caí. Caí de bunda no chão. Estatelada. Tantos foram os tombos nestas últimas semanas que precisei reaprender a andar. Sabe quando precisamos parar tudo e respirar? Pois é. Tive que fazer isso algumas vezes. O tombo mais forte foi num jantar, com pessoas que gosto muito e que, acima de tudo, respeito. Estávamos lá conversando e eu sentada, recostada na cadeira. Relaxada ouvia os relatos pessoais com afeto e aquele distanciamento relativo. De coração eu estava presente, mas com a razão construía verdades, como que em pensamentos paralelos. Quando tecia algum comentário, tentava fazê-lo para de fato acrescentar algo. De resto ficava quieta. Um gole, uma mordida na pizza, e eu certa de que tudo fluía. Com a arrogância dominando secretamente os pensamentos, totalmente disfarçada de solidariedade, poderia descrever como se meus pés estivessem sobre a mesa e a cadeira um pouco reclinada, sabe como é? Quem não se sentou assim quando estava totalmente à vontade? 
De repente, no meio de uma história de vida, contada em detalhes, com verdade e lágrimas, num total desabafo, o chão desapareceu e eu caí. 
Caí em mim, em cima de mim!! Eu tinha julgado o sujeito daquela história sem saber de nada. Eu simplesmente já o tinha definido e ponto. Como assim se detesto preconceitos?! Que onipotência essa de definir alguém!! Meus olhos caíram, minha cara caiu, cheguei a sentir as olheiras profundas surgindo em segundos. Caíram em cima de mim minhas certezas, meus pré-conceitos, meus julgamentos. Me julguei pequena, mesquinha, egoísta. Caí novamente por perceber que eu só estava mudando o sujeito, mas as críticas duras seguiam.. Em profundo silencio voltei pra casa. Depois de tanta caminhada, de saber tão bem o quanto é horrível ser julgada ou pré-definida, caí na cilada de achar que podemos definir alguém sem saber seu contexto. Só me ocorreu ligar para a pessoa e pedir desculpas (fiz minutos depois que cheguei em casa). Depois de horas fui dormir pensando que nada sei nem de mim, muito menos de outros. Estava nada. Aquela petulância virou constrangimento e fiquei sem fala. O que tenho em mim que é tão frágil, o que em mim não acredito, para que necessite julgar o outro? Não será isso outro julgamento? Não será isso também uma rigidez? O que faz com que pré-julguemos o que quer que seja? Que loucura é essa de certo/errado, bom/mau, branco/preto, 8/80, que cega a percepção do outro e de nós? Bahhh ainda estou digerindo estes tombos do meu ego, enquanto percebo o quanto tenho que caminhar.... Será que chego aos 100 anos um pouco mais gente? Sei lá, mas certamente tudo isso me aproximou da pessoa em questão e fico feliz pela confiança em mim depositada. Aprendi muito com ela entre uma e outra mordida na pizza. 

segunda-feira, 28 de março de 2011

Isso ou aquilo ou nada disso

O olhar da minha filha indica que devo saber as respostas. Ela tem uma certeza absoluta que tenho as respostas. O incrível é que esta certeza dela vem da minha total dúvida. Frequentemente digo a ela que também não sei, que tenho que ver no dicionário, na internet, no jornal, que tenho que perguntar a alguém, sei lá... Ela olha pra mim como que duvidando, como se eu estivesse brincando. Ela ainda não sabe, mas é ela que tem a resposta. Ela é que confia tanto que sabe que eu sei antes mesmo de eu saber! Confusa dinâmica  estabelecida de antemão. Sigo certa de que a certeza dela vem da minha constante demonstração de dúvida. Com isso construímos nossa relação mãe e filha. Sem todas as respostas, bem longe disso, mas com verdade, com honestidade. É incrível como vamos perdendo as certezas com o passar dos anos e, mais incrível ainda, é que vamos ficando cada dia mais serenos e convictos por saber disso. Calma gostosa que aparece no meio de tantos pontos de interrogação... Gosto de saber que a vida é assim! Que posso fazer novas escolhas, que sou responsável por elas, que posso ir e vir! Quanto mais me acho, mais me cuido, mais me respeito e, sendo assim, mais respeito minha filha e os que fazem sentido pra mim. O amor de uma criança é direto, sem escalas, intenso, inteiro, fala frases completas, impacta e nos desacomoda. Não tem essa de dúvida, de não responder de pronto, de deixar para amanhã. É na hora e com olho no olho. Uma delícia! Mas temos que estar preparados e, se não estivermos, vamos ficar na marra....
Recebi este vídeo e daí saiu este escrito. Este vídeo me desacomoda, não tento entendê-lo, só senti-lo. Assim faço com várias coisas. Não quero entendê-las, quero vivê-las e só. Este já é um bom legado: ensinar minha filha a viver o presente, a não entender tudo, a me perceber incompleta, a duvidar dos processos, a brincar com a vida, a rir de si mesma, a errar sempre, para acertar com convicção. Que se suje, que borre, que grite, que chore, que desorganize! Do caos vem a saída, a melhor idéia, o crescimento, a identidade! Desta forma consigo me mostrar, desta forma disforme, desordenada e crua, que cai e levanta. Desta forma sou mulher e mãe, amiga e filha, provedora e protetora. Desta forma a convido a navegar comigo e a crescer menina e mulher.
Não tenho as respostas. Tenho as perguntas. Várias, muitas, infindáveis! Minhas certezas são sobre o que não quero. Posso responder sobre isso ou aquilo, posso perguntar sobre nada disso ou aquilo tudo ou ainda de onde vem tudo isso?! Quem quiser participar desta troca de perguntas e respostas que venha!! Nós gostamos de gostar e estamos prontas para gostar cada dia mais!